A poética de Manoel de Barros nos atrai pelo tom lúdico e sua liberdade na construção de belas idéias através de frases inimagináveis. O poeta considera-se um "fazedor de frases" e, para isto, deparamo-nos com um "idioleto manoelês archaico" tão particular do escritor e por isso encantador. Manoel apropria-se do imenso poder das palavras construindo suas "despalavras", carregando em sua poesia uma forte sensibilidade infantil para cantar as insignificâncias do mundo.
Nesta série de 2008 - produzida pelo canal Futura - dividida em 5 episódios, o poeta fala de suas memórias, sua história e o seu fazer literário. As imagens gravadas alternam-se entre 1992 e e 2007. Disponibilizamos esta raridade para que mais pessoas possam apreciar esse poeta singular que ainda, infelizmente, não é muito discutido e estudado nos meios literários!
"Agora só espero a despalavra: a palavra nascida
para o canto - desde os pássaros.
A palavra sem pronúncia, ágrafa.
Quero o som que ainda não deu liga.
Quero o som gotejante das violas de cocho.
A palavra que tenha um aroma aina cego.
Até antes do murmúrio.
Que fosse nem um risco de voz.
Que só mostrasse a cintilância dos escuros.
A palavra incapaz de ocupar o lugar de uma imagem.
O antesmente verba: a despalavra mesmo"
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